O que é
Bexiga hiperativa é caracterizada pela associação de alguns sintomas: urgência urinária, com ou sem incontinência associada, geralmente acompanhada de aumento de frequência e noctúria (incontinência urinária noturna).
Para o seu diagnóstico é fundamental afastar infecção urinária, condições metabólicas ou outras doenças que podem disfarçar o quadro clínico de bexiga hiperativa (1).
Sintomas
Os sintomas de bexiga hiperativa consistem de quatro componentes: urgência, aumento de frequência, noctúria (incontinência urinária noturna) e incontinência de urgência.
A urgência, que é o principal sintoma, é definida como o desejo súbito e compulsivo de urinar. A frequência urinária superior a oito micções em um período de 24 horas é considerada aumentada. Noctúria é definida como a necessidade de acordar uma ou mais vezes por noite para urinar (1).
Fatores de risco
Vários fatores de risco estão associados com bexiga hiperativa. O risco é aumentado em pessoas brancas e pessoas com diabetes insulinodependente. Os indivíduos com depressão têm três vezes mais chances de desenvolver bexiga hiperativa. Idade acima de 75 anos, artrite, terapia de reposição hormonal oral e aumento do IMC (índice de massa corpórea) também são fatores de risco (2).
As mudanças fisiológicas associadas ao envelhecimento, como a diminuição da capacidade da bexiga e as alterações no tônus muscular, favorecerem o desenvolvimento da bexiga hiperativa (3,4). Talvez a mudança na função vesical mais importante relacionada com a idade que causa a incontinência urinária é o aumento do número de contrações involuntárias do detrusor (músculo que durante a micção se contrai para expulsar a urina da bexiga).
Qualquer interrupção na integração da resposta neurológica e músculoesquelética pode levar à perda do controle normal da função vesical e incontinência de urgência.
Diagnóstico
A bexiga hiperativa, cujo diagnóstico é clínico, é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas onde a urgência urinária é o principal componente. Dessa forma, a primeira abordagem é avaliar se os sintomas são consistentes com bexiga hiperativa. Outras causas de aumento de frequência, urgência e incontinência urinária devem ser excluídas.
História clínica cuidadosa, exame físico e exame de urina devem ser realizados em todos os pacientes.
Para alguns pacientes, exames e procedimentos adicionais podem ser necessários a fim de excluir outras doenças, confirmar o diagnóstico ou planejar o tratamento. Entre os exames que podem ser necessários estão a ultrassonografia renal e de vias urinárias, a mensuração do resíduo pós-miccional, o estudo urodinâmico e a cistoscopia.
O diário miccional e os questionários de sintomas urinários são uma importante ferramenta na avaliação do paciente com bexiga hiperativa.
Prevenção
Não há evidência científica comprovada a respeito de medidas preventivas para bexiga hiperativa. No entanto, hábitos saudáveis de vida como reduzir a obesidade e o tabagismo; evitar o consumo de bebidas alcóolicas e reduzir a ingestão de chás, cafeína, sucos cítricos e chocolates são medidas positivas que podem reduzir o impacto da bexiga hiperativa.
Tratamento
De acordo com o guideline da Associação Americana de Urologia (5), o tratamento da bexiga hiperativa é dividido em três linhas de tratamento:
Primeira linha de tratamento: são medidas comportamentais incluindo treinamento vesical, estratégias de controle vesical, controle da ingesta de líquidos e treinamento dos músculos do assoalho pélvico. São medidas que devem ser recomendadas para todos os pacientes.
Segunda linha de tratamento: medicamentos (antimuscarínicos e o agonista beta 3) com ou sem associação às medidas comportamentais.
Os antimuscarínicos são contraindicados em pacientes que apresentam glaucoma de ângulo fechado. Para estes, uma boa opção é o uso do agonista beta 3 mirabegron cujo mecanismo de ação causa relaxamento do detrusor (músculo que contraído expulsa a urina da bexiga) durante a fase de enchimento vesical. O mirabegron tem previsão de chegar ao Brasil em 2016.
Terceira linha de tratamento: a persistência dos sintomas após 8 a 12 semanas de tratamento comportamental ou após 4 a 8 semanas de tratamento com antimuscarínico é considerada refratariedade (5). Pacientes refratários ou que apresentaram efeitos colaterais aos antimuscarínicos são candidatos à injeção de toxina botulínica tipo A no detrusor, estimulação periférica do nervo tibial ou neuromodulação sacral.
Os estudos mostram bons resultados com a injeção de toxina botulínica tipo A no detrusor. Os pacientes, no entanto devem ser orientados quanto à possibilidade de retenção urinária com consequente necessidade de cateterismo vesical intermitente.
A maioria dos estudos sobre estimulação periférica do nervo tibial são observacionais. O protocolo mais utilizado é a estimulação de 30 minutos uma a duas vezes por semana durante 12 semanas. Há redução da frequência, dos episódios de incontinência e da noctúria. Pacientes selecionados para esta modalidade devem ser orientados quanto à assiduidade às sessões e possibilidade de sensação dolorosa no local da estimulação (5).
A neuromodulação sacral está indicada para casos refratários com sintomas severos de bexiga hiperativa. O mecanismo de ação da neuromodulação sacral não é totalmente conhecido. Estudos demonstram que a estimulação das raízes sacrais induz reflexos vesicais excitatórios e inibitórios, dependendo da intensidade e frequência da estimulação. Esses estímulos são enviados ao sistema nervoso central, que restabelece a função vesical normal (6). Estudos com seguimento de longo prazo (5 anos) mostram resposta clínica superior a 50% em até 68% dos pacientes com incontinência de urgência e de 56% para o grupo com aumento de frequência urinária (7,8,9).
Fonte: Portal da Urologia