Você já ouviu falar em fisioterapia pélvica? Trata-se de uma especialização da fisioterapia responsável por atuar na avaliação, prevenção e tratamento conservador das disfunções do assoalho pélvico* (ou períneo).
A fisioterapeuta pélvica, Jessica Ledra Planinz, assegura que esse tipo de fisioterapia pode e deve ser utilizado como forma de prevenção de diversas disfunções do assoalho pélvico. “Podemos evitar diversos problemas que as pessoas consideram normais do processo de envelhecimento (e que na verdade não são) como a incontinência urinária, fecal e inclusive prolapsos. Para isso, é necessária a avaliação dessa musculatura, dos hábitos de vida do paciente e o comprometimento do mesmo”, diz.
As principais indicações e disfunções tratadas pela fisioterapia pélvica são:
- Miccionais: incontinência/urgência/retenção urinária, infecção urinária de repetição;
- Anorretais: incontinência fecal/constipação;
- Sexuais: dor na relação sexual/ausência de orgasmo, disfunção erétil/ejaculação precoce;
- Disfunções pélvicas infantis: enurese (xixi na cama), incontinência/retenção urinária;
- Prolapsos genitais: “queda” de órgãos pélvicos, cistocele (popular “bexiga caída”), retocele, prolapso uterino;
- Pré e pós-operatório de cirurgias pélvicas: prostatectomia, perineoplastia, colocação de tela de suporte ou sling, cirurgias reparadoras de esfíncteres, dentre outras.
- Obstétrica: preparação para o parto (independente da via de parto ser vaginal ou cesárea) e pós-parto.
Jéssica destaca que todas as pessoas podem fazer a fisioterapia pélvica: homens, mulheres e, inclusive, crianças. “Mas o tratamento não será igual para todos, vai depender da avaliação, indicação e objetivos para cada um”, argumenta.
Na gestação
A fisioterapeuta explica que durante a gravidez, a musculatura do assoalho pélvico é mais exigida e sobrecarregada do que de costume, devido à necessidade de sustentar o útero em sua fase gestacional e o aumento de peso corporal.
“Para manter a sua função durante a gestação e parto, é necessário que a musculatura do assoalho pélvico esteja forte, para permitir a sustentação dos órgãos pélvicos e evitar problemas como a incontinência urinária/fecal e prolapsos. Mas essa musculatura também precisa de um bom relaxamento e flexibilidade, para permitir a passagem do bebê no momento do parto (para as mulheres que desejam o parto vaginal), diminuindo ou evitando possíveis cortes na região e laceração”, afirma.
Além de trabalhar o assoalho pélvico e prevenir incontinências, a profissional aponta que outros benefícios da fisioterapia durante a gestação são a diminuição dos desconfortos lombares e pélvicos, redução do inchaço, melhora da respiração, relaxamento muscular, melhora da consciência corporal e diminuição do tempo de trabalho de parto. “Para alcançar todos esses resultados, diversos exercícios são realizados individualmente, proporcionando uma gestação com mais conforto e qualidade”, acrescenta.
Após as 37 semanas de gestação e com liberação do obstetra, Jéssica diz que é possível utilizar um dispositivo chamado Epi-No, que auxilia no alongamento da musculatura perineal e permite o treino de expulsão.
Pós-parto
Nesta fase, a principal função da fisioterapia pélvica é reeducar o períneo devido às sobrecargas da gestação e parto, tratar possíveis disfunções, preparar o períneo para o retorno da atividade sexual sem desconfortos. Também tem o intuito de avaliar (e tratar, se necessário) a presença da diástase abdominal (afastamento dos músculos abdominais), comum na gestação.
A fisioterapeuta lembra que a realização da fisioterapia durante a gestação, evita diversas disfunções no pós-parto, porém, não diminui a importância da avaliação e acompanhamento neste período.
A importância de buscar profissionais qualificados
Jéssica destaca que, entre as especializações em fisioterapia, a pélvica é relativamente nova. “Mas a principal questão é que muitos profissionais da área da saúde não conheciam essa área de atuação, então deixavam de realizar este encaminhamento e de passar essa informação para o paciente. Nos dias de hoje está bem mais fácil essa indicação. Também percebo que o paciente vem se mostrando cada vez mais interessado e procurando por serviços específicos e conservadores para seu diagnóstico e suas queixas, tentando evitar ao máximo o uso de medicamentos e uma possível cirurgia. Mas por ser um tratamento mais íntimo, ainda existe certa resistência por parte dos pacientes”, afirma.
Segundo Jéssica, que tem sua principal área de atuação a obstetrícia, normalmente, o encaminhamento para a fisioterapia pélvica é feito por médicos, principalmente quando já existe alguma disfunção instalada. Mas ela ressalta que a pessoa interessada pode, por conta própria, procurar um fisioterapeuta especializado, realizar uma avaliação e então iniciar um trabalho preventivo.
A fisioterapeuta conta que desenvolve seu trabalho com gestantes na preparação para o parto, além de fazer o acompanhamento de partos hospitalares e domiciliares e atuar na fase do pós-parto.
“Gostaria de lembrar a importância de sempre procurar um profissional com especialização em Fisioterapia Pélvica e nunca realizar exercícios pélvicos sem antes passar por uma boa avaliação. Uma mesma disfunção pode ter diversos tipos de tratamento, o que vai definir o melhor tratamento e prioridades para cada um é a avaliação inicial”, complementa.
* O assoalho pélvico é uma estrutura formada por músculos, ligamentos e fáscias e localiza-se entre o osso púbis e o cóccix. O conjunto destas estruturas é responsável pela continência urinária e fecal, além da função sexual e parte da função obstétrica.
Postado por: Josiane Caitano
Fonte: Saúde da Gente